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Cervejas Trapistas: O Que São e Como Surgiram?

As cervejas trapistas são famosas no mundo cervejeiro pela qualidade, tradição e história que carregam. Produzidas por monges trapistas em mosteiros, essas cervejas têm um misticismo e um prestígio que atraem curiosos e especialistas. Mas o que são exatamente as cervejas trapistas e por que elas são tão especiais?

Neste artigo, exploraremos o que define uma cerveja trapista, como surgiram e quais características fazem delas uma experiência única. Seja você um iniciante ou um apreciador experiente, esta leitura oferece uma visão detalhada para entender a essência das cervejas trapistas.


O Que São Cervejas Trapistas?

As cervejas trapistas são cervejas produzidas sob a supervisão de monges trapistas, uma ordem monástica católica que segue os ensinamentos de São Bento. O termo “trapista” não indica um estilo de cerveja específico, mas sim um modo de produção e um conjunto de regras que as diferenciam de outras cervejas.

Para uma cerveja ser considerada trapista, ela deve atender aos critérios definidos pela Associação Internacional Trapista (AIT), uma organização que regula a produção autêntica de produtos trapistas. Vamos entender melhor esses requisitos.

Requisitos para Ser uma Cerveja Trapista Autêntica

  1. Produção em Mosteiros Trapistas: A cerveja deve ser produzida em um mosteiro trapista, e o processo de produção precisa ser supervisionado pelos monges da ordem.
  2. Objetivo Religioso e Caritativo: O lucro obtido com a venda das cervejas deve ser utilizado para o sustento do mosteiro e para atividades de caridade. As cervejas trapistas não visam o lucro comercial.
  3. Selo Autêntico Trapista: A AIT concede um selo de autenticidade, chamado “Authentic Trappist Product”, às cervejas que atendem a esses requisitos. Esse selo garante que o produto é genuinamente trapista e mantém os valores da ordem.

Esses três requisitos diferenciam as cervejas trapistas de outras “cervejas de abadia”, que podem seguir um estilo similar, mas não são produzidas diretamente por monges ou sob supervisão de um mosteiro trapista.


A História das Cervejas Trapistas

A tradição cervejeira trapista começou há séculos, mas foi a partir do século XIX que ela ganhou mais relevância. Os monges trapistas, em busca de autossuficiência, começaram a produzir e vender cerveja para sustentar suas comunidades e apoiar causas sociais.

A Ordem Trapista

A ordem trapista, ou a Ordem Cisterciense da Estrita Observância, originou-se da Ordem de Cister, uma ordem católica fundada no século XI, que pregava uma vida de simplicidade e oração. No século XVII, surgiu um movimento dentro da ordem que incentivava uma vida ainda mais rigorosa e austera – esses monges passaram a ser conhecidos como trapistas.

Em sua busca pela autossuficiência, os monges trapistas criaram produtos artesanais, incluindo queijos, pães e, claro, cervejas. A produção de cervejas trapistas foi uma atividade que se desenvolveu para sustentar os mosteiros e financiar ações de caridade.

Expansão da Produção Cervejeira

No século XIX, muitos mosteiros trapistas começaram a desenvolver a produção de cerveja em maior escala. Foi nessa época que os mosteiros da Bélgica, país onde se concentra a maior parte dos mosteiros trapistas cervejeiros, se destacaram pela produção de cervejas de alta qualidade.

Com o passar do tempo, essas cervejas ganharam reconhecimento internacional, e o nome “trapista” tornou-se associado a um padrão de excelência e tradição. Em 1997, a Associação Internacional Trapista foi criada para proteger a autenticidade dos produtos trapistas, incluindo a cerveja, e evitar que o termo fosse usado indiscriminadamente.


Estilos de Cerveja Trapista

Embora as cervejas trapistas sigam normas rigorosas de produção, elas variam em estilos, aromas e sabores. Alguns dos estilos mais comuns incluem:

1. Dubbel

A Dubbel é uma cerveja de coloração âmbar a marrom escura, com teor alcoólico em torno de 6% a 8%. Este estilo é caracterizado por um sabor maltado com notas de caramelo, frutas secas e especiarias. É uma cerveja encorpada e levemente adocicada, que agrada tanto iniciantes quanto conhecedores.

2. Tripel

A Tripel é uma cerveja de cor dourada, com teor alcoólico mais elevado, variando de 8% a 10%. Apresenta um sabor mais seco e complexo, com notas frutadas e condimentadas, além de um leve amargor. A Tripel é um dos estilos trapistas mais populares e costuma ser refrescante e aromática.

3. Quadrupel

A Quadrupel é uma cerveja forte e encorpada, com teor alcoólico em torno de 10% a 12%. Possui uma cor mais escura e sabores intensos de frutas maduras, como ameixas e passas, além de caramelo e especiarias. É um estilo robusto, ideal para apreciadores que buscam uma experiência de degustação mais profunda e complexa.

4. Blonde Ale

Embora menos comum entre as trapistas, algumas produzem Blonde Ales, que são cervejas claras e levemente maltadas, com baixo amargor e teor alcoólico entre 5% e 7%. Esse estilo é mais leve e fácil de beber, ideal para quem está começando a experimentar cervejas trapistas.


Mosteiros Famosos e Suas Cervejas

Atualmente, apenas 14 mosteiros trapistas têm autorização para produzir cervejas com o selo de autenticidade.

2-5 Cervejas Trapistas: O Que São e Como Surgiram?

Vamos conhecer alguns dos mais famosos e suas produções.

1. Westvleteren (Bélgica)

Considerada por muitos a melhor cerveja do mundo, a Westvleteren é produzida no Mosteiro de St. Sixtus, na Bélgica. Sua produção é limitada, e os monges controlam rigorosamente a venda para garantir que o foco esteja na qualidade e não no lucro. A Westvleteren 12, uma Quadrupel, é particularmente renomada.

2. Chimay (Bélgica)

O mosteiro de Chimay é um dos mais conhecidos e produz uma linha de cervejas amplamente distribuída. Seus estilos incluem Dubbel (Chimay Rouge), Tripel (Chimay Blanche) e Quadrupel (Chimay Bleue), que são apreciados por sua consistência e qualidade.

3. Rochefort (Bélgica)

O mosteiro de Rochefort é famoso por suas cervejas complexas e ricas, especialmente a Rochefort 8 e a Rochefort 10, que são Quadrupels de sabores intensos e perfil robusto.

4. La Trappe (Holanda)

O único mosteiro trapista da Holanda, La Trappe, oferece uma variedade de estilos, incluindo a Blond, Dubbel, Tripel e Quadrupel. Suas cervejas são reconhecidas pela qualidade e autenticidade.

5. Orval (Bélgica)

A abadia de Orval e localizada na região de Gaume, na Bélgica, é uma das mais renomadas entre as abadias trapistas. Fundada no século XI, Orval possui uma história rica e uma tradição de produção de cerveja que se destaca pela inovação e originalidade. A cerveja Orval é conhecida por seu perfil complexo, graças ao uso de lúpulos secos e à fermentação secundária com leveduras especiais, o que resulta em uma bebida levemente amarga e com um toque “funk” característico, resultado da ação da levedura Brettanomyces.


Dicas para Degustar Cervejas Trapistas

Ao degustar uma cerveja trapista, há algumas práticas que podem enriquecer a experiência:

  1. Escolha a Taça Certa: As cervejas trapistas geralmente são servidas em taças de boca larga, que permitem que os aromas se dissipem e sejam apreciados.
  2. Respeite a Temperatura: Cada estilo tem uma faixa de temperatura ideal de serviço. Em geral, cervejas mais escuras e encorpadas podem ser degustadas a uma temperatura ligeiramente mais alta, entre 8°C e 12°C.
  3. Aprecie a Evolução dos Sabores: Muitas cervejas trapistas possuem sabores complexos que se desenvolvem ao longo do tempo, principalmente se envelhecidas. Ao beber, note a transição de sabores e aromas a cada gole.
  4. Armazene Corretamente: Para quem deseja envelhecer uma cerveja trapista, é importante mantê-la em um ambiente fresco, escuro e com temperatura constante.

As cervejas trapistas não são apenas uma bebida, mas uma expressão de uma tradição secular e de valores que transcendem o mundo cervejeiro. Cada garrafa representa a dedicação dos monges à qualidade e ao propósito de servir à comunidade e preservar seus mosteiros.

Para os entusiastas e curiosos, as cervejas trapistas oferecem uma experiência única de sabor e história, além da oportunidade de apreciar a cultura e a devoção que envolvem cada gole. Então, na próxima vez que encontrar uma cerveja trapista, saiba que você está saboreando uma autêntica joia artesanal.

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